Cistos Sinoviais no punho: o que são?

Dr. Leonardo Kurebayashi • February 1, 2023

O que são os cistos sinoviais?

São nódulos ou inchaços anormais que aparecem próximos às articulações. Também podem ser chamados de cistos artrossinoviais ou gânglios císticos. São os tumores de partes moles mais comuns da mão mas, apesar do termo "tumor", não se trata necessariamente de um câncer, sendo a maior parte dessas lesões, de natureza benigna.


A prevalência dos cistos sinoviais é maior nas mulheres e geralmente ocorre entre a segunda e quarta décadas de vida (70%). Apresenta-se clinicamente como um aumento de volume superficial localizado, em sua maioria, na região dorsal do punho (60-70% de todos os cistos da mão e punho), geralmente localizado sobre o ligamento escafossemilunar.


Tipicamente, o cisto dorsal encontra-se entre os tendões do músculo extensor longo do polegar (3.º compartimento extensor) e extensor comum dos dedos (4.º compartimento extensor).

O segundo tipo mais comum de cisto da mão e punho é o localizado na região volar do punho (18 a 20%). Geralmente se forma a partir da região capsular da articulação radiocarpal, passando entre o tendão do flexor radial do carpo e o tendão do abdutor longo do polegar.


Tais cistos costumam possuir contato com a artéria radial, sendo crucial o conhecimento da anatomia local para preservação dessa estrutura nobre.


Diagnósticos diferenciais


Há outros tipos de nódulos menos comuns que podem mimetizar cistos sinoviais:


  • Tumor de células gigantes da bainha tendinosa: geralmente são tumores firmes, nodulares e não dolorosos. Na maior parte das vezes, apresentam crescimento lento e são de natureza benigna, apesar de também existirem formas malignas descritas
  • Cisto de inclusão epidérmica: também benigno, esse tipo de nódulo se forma sob a derme sendo preenchido de queratina, substância de aspecto ceroso
  • Lipomas: são tumores gordurosos benignos, podem crescer adjacentes às bainhas tendíneas, no túnel do carpo e no canal de Guyon. Geralmente, são massas não dolorosas e não transparentes
  • Sarcoma de partes moles: são relativamente raros na mão, sendo que na maioria dos casos, há algum fator de risco envolvido (exposição a radiação e herbicidas, por exemplo). Os tipos mais comuns são o sarcoma epilidóide, sarcoma sinovial e histiocitoma fibroso maligno


Principais queixas e sintomas dos pacientes


O paciente geralmente se preocupa com os diagnósticos diferenciais. Mas muitos também reclamam do aspecto estético da tumoração, dor para prática de atividades esportivas, dor durante o simples ato de apoiar a mão para se levantar, dor irradiada para a mão / antebraço ou sensação de fraqueza.

Uma história de evento traumático específico é descrito em até 10% dos pacientes.


Os cistos podem crescer rapidamente ou se desenvolver ao longo de meses. Podem reduzir de tamanho com o repouso e aumentar com atividades. Alguns pacientes podem apresentar ruptura do mesmo ou o mesmo desaparecer espontaneamente, mas as
taxas de recorrências podem chegar a mais de 50% quando o mesmo não é adequadamente ressecado.

Caso de recidiva do cisto sinovial, operado fora do Estado de SP, procurou atendimento para reavaliação. É possível observar a cicatriz transversa e a tumoração distal à mesma.

Exames de imagem que complementam a avaliação


Os exames que trazem informações relevantes para os casos de cistos sinoviais são a ultrassonografia e ressonância magnética. 

Em alguns casos, a radiografia pode trazer informações adicionais, como em casos de alterações degenerativas articulares próximas das lesões tumorais.


Anatomia


A descrição microscópica dos cistos é bem conhecida. Os mesmos podem ser simples ou multilobulados. Geralmente, são amolecidos / macios, apresentam aspecto esbranquiçado e são translúcidos.


A parede dos mesmos são compostas de fibras compactadas de colágeno e esparsamente revestidas com células achatadas sem evidências de revestimento epitelial ou sinovial.

O conteúdo do cisto é um líquido viscoso, claro, gelatinoso composto por glucosamina, albumina, globulina e altas concentrações de ácido hialurônico. Em alguns casos, esse conteúdo pode estar corado com aspecto sanguinolento, geralmente quando houve algum episódio de trauma próximo à data da ressecção cirúrgica.

Aspecto do conteúdo do cisto geralmente gelatinoso

Opções de tratamento


NÃO CIRÚRGICO

  • Observação clínica;
  • Aspiração (eficaz em 20-30% dos casos), sempre se atentando para o maior risco em casos de cistos volares devido à proximidade com a artéria radial;


CIRÚRGICO

  • Artroscópico;
  • Ressecção aberta;


O princípio do tratamento cirúrgico consiste na descompressão e drenagem, com ressecção de uma porção da cápsula articular e da parede do cisto. Na literatura, a
taxa de recidiva dos cistos tem um valor médio de 15% (Grégoire et al, 2022).


Os resultados publicados mostram taxas de recidivas similares em ambas as técnicas (artroscópico e ressecção aberta). Em estudos comparativos avaliando riscos e benefícios da técnica artroscópica versus aberta, os resultados se mostraram similares (Edwards
et al, 2009; Kang et al, 2008). 


Conclusão


Todo paciente deve ser avaliado individualmente e a forma de tratamento será ajustada de forma personalizada. Consulte seu especialista de cirurgia de mão. 


Referências bibliográficas

  1. Wolfe SW, Hotchkiss RN, Pederson WC, Kozin SH, Cohen MS, Green's Operative Hand Surgery, 8th ed. Elsevier, 2022
  2. Grégoire C, Guigal V. Efficacy of corticosteroid injections in the treatment of 85 ganglion cysts of the dorsal aspect of the wrist. Orthop Traumatol Surg Res. 2022 Nov;108(7):103198. doi: 10.1016/j.otsr.2022.103198. Epub 2022 Jan 11. PMID: 35031514.
  3. Edwards SG, Johansen JA. Prospective outcomes and associations of wrist ganglion cysts resected arthroscopically. J Hand Surg Am. 2009 Mar;34(3):395-400. doi: 10.1016/j.jhsa.2008.11.025. PMID: 19258135.
  4. Kang L, Akelman E, Weiss AP. Arthroscopic versus open dorsal ganglion excision: a prospective, randomized comparison of rates of recurrence and of residual pain. J Hand Surg Am. 2008 Apr;33(4):471-5. doi: 10.1016/j.jhsa.2008.01.009. PMID: 18406949.)


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